quinta-feira, 16 de junho de 2011

Fugaz

Naquele dia resolveu sair de casa com seu tênis rasgado. Choveu e fez muito frio. Havia saído cedo para procurar emprego. Junto aos diplomas, documentos e comprovantes levava o endereço para o qual se dirigia, uma rua com nome de estado americano em um bairro com homônimo nova iorquino. Anexado a tudo isso carregava a impressão de que nada em sua vida durara muito tempo e pensava se por força das circunstâncias ou por qualquer falha de caráter manifestada na idade adulta. A despeito de suas suspeitas, tinha algumas certezas, entre elas a de que se cansava rapidamente de tudo e se perguntava até quando esta constante mutabilidade perduraria, apenas isso seguia duradouro em sua vida. Perguntava-se também se assim como ela a chuva se cansaria e pararia de chover para que pudesse deixar o botequim onde se abrigara, comera uma coxinha e tomara chocolate quente, e então seguir para o emprego do qual gostava, e queria abandonar. Ao abrir o guarda chuva na porta do bar, sentiu algo molhado em si e o frio percorreu seu corpo. Havia escolhido o calçado errado, estava certa, contava também com a certeza de que algo naquele dia duraria. Teria que trabalhar pelo restante do expediente com as meias úmidas, a única conclusão a que chegara naquela semana.

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