Hoje acordei com fome. Depois do banho e de todo o ritual que o sucede, resolvi tomar o café na padaria. Pedi ao rapaz a já tradicional média e pão com manteiga na chapa, após o primeiro gole seguido da mordida no pão, notei que o que tinha não era fome, mas alguma inquietação que me atrapalhara o sono e me fizera sair da cama horas antes do habitual. Com tempo de sobra, tomei calmamente o restante do desjejum e refleti sobre o quanto detestava aquela palavra, também não gostava da palavra almoço, mas simpatizava pelo jantar. Tomado o café, me demorei na banca de jornal, onde tradicionalmente me informo, sem nunca comprar jornal ou revista. Caminhei pela avenida, incomodada pela estranha sensação... de sede? Ansiosa por resolver a questão, comprei uma garrafa d’água, sentia mesmo um pouco de sede, mas não era ela a razão oculta do desconforto.
Durante o passeio pela avenida notei as pessoas que por mim passavam, os prédios por onde eu passava e a vida que perpassava a tudo. Os pés caminhavam com independência, sem precisarem das ordens da cabeça, que se ocupava em não ter ocupação alguma, além de apenas decodificar o que as retinas a ela enviavam. Os mesmos pés autônomos, como que impelidos pela mente dispersiva que retorna a si, estacaram diante da arte urbana e naquele momento os pés, a cabeça oca, o estômago e a retina se reintegraram, reconhecendo que pertenciam ao mesmo corpo, numa epifania percebi que estava sim com fome e sede e já beirava a inanição. Sentia fome de arte e sede da fluidez da beleza em mutação.
2 comentários:
Pois é, tem até quem ande por aí roubando quadros famosos de museus, galerias, etc. A isso chamam de furto famélico.
Ars longa, vita brevis.
Gostei do seu texto!
Obrigado pela mensagem simpática que deixou no meu blog.
Já que gostou, poderia se tornar seguidor! :D
Abraço ;)
Postar um comentário