quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Epifania


Hoje acordei com fome. Depois do banho e de todo o ritual que o sucede, resolvi tomar o café na padaria. Pedi ao rapaz a já tradicional média e pão com manteiga na chapa, após o primeiro gole seguido da mordida no pão, notei que o que tinha não era fome, mas alguma inquietação que me atrapalhara o sono e me fizera sair da cama horas antes do habitual. Com tempo de sobra, tomei calmamente o restante do desjejum e refleti sobre o quanto detestava aquela palavra, também não gostava da palavra almoço, mas simpatizava pelo jantar. Tomado o café, me demorei na banca de jornal, onde tradicionalmente me informo, sem nunca comprar jornal ou revista. Caminhei pela avenida, incomodada pela estranha sensação... de sede? Ansiosa  por resolver a questão, comprei uma garrafa d’água, sentia mesmo um pouco de sede, mas não era ela a razão oculta do desconforto.

Durante o passeio pela avenida notei as pessoas que por mim passavam, os prédios por onde eu passava e a vida que perpassava a tudo. Os pés caminhavam com independência, sem precisarem das ordens da cabeça, que se ocupava em não ter ocupação alguma, além de apenas decodificar o que as retinas a ela enviavam. Os mesmos pés autônomos, como que impelidos pela mente dispersiva que retorna a si, estacaram diante da arte urbana e naquele momento os pés, a cabeça oca, o estômago e a retina se reintegraram, reconhecendo que pertenciam ao mesmo corpo, numa epifania percebi que estava sim com fome e sede e já beirava a inanição. Sentia fome de arte e sede da fluidez da beleza em mutação.

2 comentários:

Jamil P. disse...

Pois é, tem até quem ande por aí roubando quadros famosos de museus, galerias, etc. A isso chamam de furto famélico.

Ars longa, vita brevis.

Nocturno disse...

Gostei do seu texto!

Obrigado pela mensagem simpática que deixou no meu blog.
Já que gostou, poderia se tornar seguidor! :D

Abraço ;)