
Os sobressaltos não teriam esse nome se não nos tirassem da normalidade segura, se não nos fizessem ver a vida por ângulos diferentemente incômodos, se não provocassem vertigens inconvenientes. Eles estão aí, acontecem e no dizer popular "estamos, todos, sujeitos a eles" perturba pensar que podemos estar sujeitos a algo, que não temos o controle de tudo, e que somos o elemento que sofre a ação, não o contrário. Incomoda tanto que construímos muros ao nosso redor, quando suas paredes se tornam insustentavelmente pesadas, quando nossos alicerces não parecem tão fortes assim e as paredes caem nos deixando vulneráveis, nus na multidão, os sentimentos de insignificância e descartabilidade crescem, o torpor chega e a coragem sai.
Também é a hora da serenidade e de certeza, a de que todas as coisas são transitórias, que nada dura definitivamente, as glórias, os fracassos, as nações, os contratos, as certezas... em que sentido o relativismo nos ajudou? Matamos todos os nossos ícones e o que ficou para nós? Um professor por quem tenho grande admiração uma vez disse: "Marx morreu, Nietzsche morreu, Jesus morreu. Eu mesmo também não tenho me sentido muito bem."Por hora só tenho um pedido, sem sobressaltos, sem surpresas, por favor.
P.S mês que vem o blog completará um aninho. Haverá festa, bolo, bala de coco, pão com carne moída e guaraná quente. Quem quiser pode trazer um pratinho de doce ou salgado. A festa será no puxadinho.
2 comentários:
Cami, não sei se comentei com vc, não sei se já escrevi sobre isso mas alguns de seus textos me lembram "O PULSO", grande música dos Titãs, numa época em que a banda lançava grandes discos (1987 - 1989. Eis a época).
Em meio às doenças, surgem palavras desconcertantes que seriam doenças apenas num sentido figurado e muitíssimo alargado como ciúme ou rancor ...
A forma com que usa as palavras muitas vezes remete a uma desconcertante "quebrada" de ritmo, como na música.
Até me ajeito na cadeira e logo vem um sorriso largo com uma sutil ironia ou quando alguma coisa pessoal está misturada à inúmeras situações genéricas.
Joga muito bem com as palavras. E são excelentes as reflexões. O PS está fantástico e a foto do Moto Serra idem.
Parabéns pelo blog !
Como se mata um cactus ? Esquecendo-se da água ?
Bjs
Que coisa incrível isso de lembrar "o pulso", o comentário é inédito e me sinto lisonjeada, mas quanto à questão da quebra no rítmo, acaba sendo mais uma deficiência na escrita que propriamente uma virtude. Alguns professore me alertaram para isso, que é um defeito em trabalhos acadêmicos. Acho incrível você ter notado isso, leitura apurada!
A frase da semana é de um possível presidenciável, o Ciro Gomes, sim, ele disse mesmo isso em uma entrevista, talvez à Folha, não me recordo. A foto do moto serra é quase um retrato da aura do sujeito.
E respondendo à pergunta: cactus morrem por excesso de água...
Saludos!
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