quarta-feira, 16 de setembro de 2009

No alarms and no surprises, please

O momento é de paz, paz nervosa, calmaria negociada. Tudo está em suspensão e você espera. Espera que as pessoas importantes da sua vida sobrevivam a você, que o pessoal do Rh não te chame para uma conversa, que o orientador continue forte e saudável até o fim da dissertação, que seu marido não peça o divórcio, que o médico não faça aquela cara após olhar os exames e que o dia seguinte seja normal. Espera em baixo da cama até as coisas voltarem ao lugar.

Os sobressaltos não teriam esse nome se não nos tirassem da normalidade segura, se não nos fizessem ver a vida por ângulos diferentemente incômodos, se não provocassem vertigens inconvenientes. Eles estão aí, acontecem e no dizer popular "estamos, todos, sujeitos a eles" perturba pensar que podemos estar sujeitos a algo, que não temos o controle de tudo, e que somos o elemento que sofre a ação, não o contrário. Incomoda tanto que construímos muros ao nosso redor, quando suas paredes se tornam insustentavelmente pesadas, quando nossos alicerces não parecem tão fortes assim e as paredes caem nos deixando vulneráveis, nus na multidão, os sentimentos de insignificância e descartabilidade crescem, o torpor chega e a coragem sai.

Também é a hora da serenidade e de certeza, a de que todas as coisas são transitórias, que nada dura definitivamente, as glórias, os fracassos, as nações, os contratos, as certezas... em que sentido o relativismo nos ajudou? Matamos todos os nossos ícones e o que ficou para nós? Um professor por quem tenho grande admiração uma vez disse: "Marx morreu, Nietzsche morreu, Jesus morreu. Eu mesmo também não tenho me sentido muito bem."

Por hora só tenho um pedido, sem sobressaltos, sem surpresas, por favor.

P.S mês que vem o blog completará um aninho. Haverá festa, bolo, bala de coco, pão com carne moída e guaraná quente. Quem quiser pode trazer um pratinho de doce ou salgado. A festa será no puxadinho.

2 comentários:

ERIK JONES disse...

Cami, não sei se comentei com vc, não sei se já escrevi sobre isso mas alguns de seus textos me lembram "O PULSO", grande música dos Titãs, numa época em que a banda lançava grandes discos (1987 - 1989. Eis a época).

Em meio às doenças, surgem palavras desconcertantes que seriam doenças apenas num sentido figurado e muitíssimo alargado como ciúme ou rancor ...

A forma com que usa as palavras muitas vezes remete a uma desconcertante "quebrada" de ritmo, como na música.

Até me ajeito na cadeira e logo vem um sorriso largo com uma sutil ironia ou quando alguma coisa pessoal está misturada à inúmeras situações genéricas.

Joga muito bem com as palavras. E são excelentes as reflexões. O PS está fantástico e a foto do Moto Serra idem.

Parabéns pelo blog !

Como se mata um cactus ? Esquecendo-se da água ?

Bjs

Sem tempo para manter um blog disse...

Que coisa incrível isso de lembrar "o pulso", o comentário é inédito e me sinto lisonjeada, mas quanto à questão da quebra no rítmo, acaba sendo mais uma deficiência na escrita que propriamente uma virtude. Alguns professore me alertaram para isso, que é um defeito em trabalhos acadêmicos. Acho incrível você ter notado isso, leitura apurada!
A frase da semana é de um possível presidenciável, o Ciro Gomes, sim, ele disse mesmo isso em uma entrevista, talvez à Folha, não me recordo. A foto do moto serra é quase um retrato da aura do sujeito.
E respondendo à pergunta: cactus morrem por excesso de água...
Saludos!