sábado, 1 de agosto de 2009

Razão e Sensibilidade, ou o Humano, Demasiado Humano

"Tá, então me explica o que é sensibilidade". Diante da pergunta permaneci muda, não sabia realmente responder a questão. "Eu sou sensível?", de bate pronto dei a resposta: "não", seguiram-se risadas e explicações possíveis para a primeira pergunta colocada: "Eu chorei vendo uma reportagem sobre crianças que passam fome"; "o fulano é muito sensível, ele vive à flor da pele". Agora, algum tempo depois da primeira indagação, que gerou muitos minutos de conversa, sou levada a crer que a sensibilidade esteja, acima de tudo, ligada à percepção. Perceber a hora e o lugar para dizer e para calar. Aquele que consegue a combinação ou timing adequado é sensível, pode também ser chamado de sábio, logo, a sabedoria é um componente fundamental para tornar-se sensível.

Uma pessoa pode chorar pelas dores do mundo, se comover com a cena de um filme, se emocionar com a beleza da música clássica e, no entanto, não possuir a menor percepção daquilo que acontece dentro de sua própria casa, com o colega do trabalho que está ao lado, com a pessoa do outro lado da linha. A palavra dita ou guardada no momento certo, o gesto realizado, perceber tudo isso tudo acontecendo no instante do olhar é o que distingue a sensibilidade de seu oposto.

O homem sensível não é aquele que manda flores no dia do aniversário ou nota que você cortou o cabelo, é aquele que percebe o que está acontecendo sem que você precise falar. Essa consideração corrobora minha resposta à segunda pergunta. A mulher sensível: é exatamente igual ao homem sensível, quando não se entrega à frivolidade ou à ilusão de querer parecer uma fortaleza.

É possível conciliar senso de humor, inteligência, generosidade e sensibilidade? Oui, mon cher. Até uma crítica do ser humano, desesperançada com os caminhos do mundo, conseguiu ver isso, é difícil encontrar? Sim, claro, mas com um pouco de sensibilidade e percepção, olhando ao redor, ou um bom tanto além, é possível encontrar tudo isso em algumas pessoas, e o mais fascinante, tirar daí vontade e esperança de ver caminhos melhores, de nos lembrarmos que o mundo pode sim ser bão, Sebastião, graças a ele, a ela, a você, sensível. Basta olhar para eles, e perceber em toda sua fraca humanidade a grandeza do fazer pelo outro.

3 comentários:

Unknown disse...

...seus textos...seus pensares..sempre tão meus..rs..as vezes quando leio vc..penso que leio Clarice..por todas as vezes em que lia um texto dela e olhava pros lados como quem a procura..dizendo.."como vc entrou na minha cabeça..como sabia que era isso que eu estava pensando..?"..
adoro ler vc..não me canso...
posso demorar um pouco a te visitar...mas visito...e é sempre uma agradavel companhia...um abraço bem forte..

ERIK JONES disse...

Cherrie, o conceito de sensibilidade tem uma pertinência incrível ...

Sensibilidade EMO ou sensibilidade moldada em pragmatismo pré fabricado estão bem aquém do real e maior alcance do termo ...

Percepção, adequação, alcance exato de conveniência e oportunidade, sabedoria ... muito bem, concordo inteiramente com o conceito, me levanto, bato palmas e tiro o chapéu. GRANDE OBSERVAÇÃO!

Como é bom conversar com vc ...

Toda Palavra Pode ser Virgula ? disse...

Adorei :D