sexta-feira, 24 de julho de 2009

Transformando a lealdade em padrão

Era uma vez, em um reino não muito distante, a trágica história de amor entre dois jovens. Este reino era conhecido em todo o mundo pelas qualidades que possuíam seus cavaleiros. Homens bravos, destemidos, habilidosos e que desde a tenra infância haviam passado por situações que provaram seu valor, muitos passaram fome e tiveram que lutar com terríveis monstros até serem sagrados cavaleiros. Sua habilidade era um dom divino, pois aqueles que os conheciam do berço afirmavam serem seus primeiros passos a demonstração daquilo para que haviam nascido, a extenuante carga de treinamento era pura diversão, ainda que realizada em terrenos adversos e sem o equipamento adequado.

Como cavaleiros andantes, juravam defender seus respectivos senhores, prometendo-lhes sob bandeiras desfraldadas e o testemunho da heráldica da casa, fidelidade e serviço em troca do pagamento acertado entre ambos, mas também por aquele que se responsabilizava pelos negócios do jovem, uma vez que saiam muito cedo de seus lares. Os cavaleiros mais notórios eram os mais disputados pelas casas senhoriais, e, portanto, os mais dispendiosos e voluntariosos.

Havia algo comum a todos estes cavaleiros, algo que fazia parte de sua natureza andante, como campeões, todos sonhavam fazer fortuna nas casas mais prestigiadas, ainda que em outros reinos. A cobiça era maior que o amor um dia dado por seus senhores e sua casa. Homens tão instáveis, movidos pelo ouro, estavam sujeitos a uma maldição: a de fazer sofrer todas as mulheres que por eles se apaixonassem.

As mulheres que freqüentavam a corte dividiam-se nas seguintes categorias: as amantes profissionais, que dificilmente entregavam seu coração a um cavaleiro, seu compromisso era com o senhor; as comprometidas com a vida religiosa nos conventos, que por vocação não se interessavam por nenhum cavaleiro e preferiam levar a vida sem grandes emoções; as volúveis, amavam as vitórias e não necessariamente o cavaleiro ou casa por eles representada; as megeras, insatisfeitas e cruéis, mesmo quando apaixonadas; por último, as destinadas a sofrer, as donzelas. Estas entregavam o coração com toda a sinceridade de suas almas, acompanhavam os cavaleiros em todas as batalhas, estavam presentes nas liças e vestiam-se com as cores de sua casa senhorial, entoavam cânticos e gritavam o nome dos heróis. A paixão é mesmo cega.

Mesmo cientes da instabilidade de seus campeões as donzelas dedicavam-se amá-los à distância, empenhando cada fibra de seu ser a estes valentes com a vã esperança de que o amor a elas e a casa onde cresceram e tornaram-se famosos fosse maior que a usura. As ingênuas donzelas tão propensas a paixões, também aprendiam a odiar quando os cavaleiros espezinhavam seus sentimentos, irracionais, destruíam a casa, ultrajavam o nome do amado, imploravam a seus pais que rogassem pela permanência da pessoa querida, mas não desconfiavam que seus próprios pais também eram parte do sistema de enriquecimento no qual participavam os cavaleiros, como as menores das peças.

O pai, endividado, perdulário e mau administrador abria mão do herói e assistia ao sofrimento da filha. O herói evocando suas lendárias raízes humildes se desculpova e dizia que aquela era a melhor decisão a ser tomada por ele, um homem que honra o nome dos seus.
Até hoje os cavaleiros são vistos rumando em comitivas para reinos longínquos e idílicos.
Bem vindo, torcedor brasileiro, à abertura de mais uma janela dos campeonatos europeus. Não se apegue ao herói da vez, ele será o próximo a ir embora.

3 comentários:

ERIK JONES disse...

Numa análise individualista e Joselitista, não seria má ideia que a janela não se limitasse a ficar aberta.

Ela poderia ir além sendo um monstro maligno e ter natureza não estática. Ou seja, a cada fiasco (e haja fiasco) ela se aproximaria do jogador medíocre ... até que chegaríamos ao momento sublime : a janela engole o jogador ordinário, levando-o para o submundo da Tundra, ou se vc preferir, para a última sensação do futebol grego da última semana.

Quem sabe até a Bielorússia ou mesmo o Qatar, país com belo trocadilho, afinal de contas vá se ...

Isso é apenas um resmungo pós lanterna.

Que a janela da destruição ataque à tudo e à todos nas Laranjeiras, preservando apenas o pequenino argentino ... e que comece o massacre pelo Presidente e pela patrocinadora chantagista.

SOBERANIA JÁ !

Sem tempo para manter um blog disse...

Querido Erik Jones, muchas gracias pela presença constante por aqui, e não só aqui...pena que o sonho da janela buraco negro-engolidora de jogadores ordinários ainda é um sonho... Pierre, o quase extraordinário, já foi... o Capixaba ninguém quer.
Ah, se o outro sonho se realizar, aquele da mega sena, o que viria escrito na camiseta no lugar do patrocinador?

ERIK JONES disse...

O Pierre talvez seja envolvido numa troca por Vagner Love no final do ano ... será a vez dele de passar um exílio na Tundra, ao que tudo indica.

Impressionante a sedução que a janela exerce ... e como jogador mal preparado se deixa levar por paranóia/ ganancia de empresário picareta ...

Na camiseta talvez alguma frase de exaltação do Grande Nelson Rodrigues ... um dia isso acontece.