sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Paranoia delirante

Fenômenos mundiais tem mesmo um poder incrível sobre o comportamento humano, a crise econômica é um exemplo, a nova gripe é o mais recente. Esses fenômenos existem, não foram inventados, talvez um pouco inflacionados, mas são tão reais quanto você, eu e a matrix. Conheço pessoas que freqüentam lugares de segurança e reputação duvidosas sem o menor problema, mas estão evitando shoppings e estádios de futebol por receio da contaminação porcina. Obvio que todo cuidado é pouco quando se trata de saúde, se ela é frágil, atenção redobrada, claro que existem riscos de morte, ninguém precisa pagar para ver quando os fatos já estão dados, mas acredito que mais que a crise econômica a nova gripe esteja transformando hábitos psico-sociais.

Consta entre as minhas primeiras lembranças nesse mundo minha mãe dizendo que vai morrer, ouço isso há 25 anos, algumas vezes interpretei como um desejo, outras como um desabafo e, na maioria das vezes, como uma forma de me irritar. Alguns minutos atrás, arrumando o guarda roupas, ouvi a conversa da minha mãe por telefone com uma amiga, o diálogo captado era mais ou menos este :

Mãe: eles (os cientistas) ficam fazendo experiências com esses ratos... vai que um deles foge e começa a fazer xixi por aí, vai contaminar todo mundo"

Amiga: blá, blá, blablá

Mãe: é, isso... terrorismo, vai que cai nas mãos dos terroristas.(o rato??)

De uma maneira que desconheço a conversa terminou em Cuba, alguma história bonita de vida de um ex-guerrilheiro cubano, contada por mami.Enquanto minha mãe e a amiga conversavam tentei entender se o medo seria o de uma nova epidemia, cruzamento da suína com genes de ratos criados em laboratório, ou se era medo do retorno da peste negra... o fato é que já faz um tempo que não ouço minha mãe dizer que vai morrer. O invisível assusta, fascina e vende notícia.

Outro exemplo de paranoia incutida no imaginário. Encontrei uma colega na faculdade, não nos víamos já fazia tempo, a cumprimentei com o tradicional beijinho (em São Paulo, um só), conversa vai, conversa vem e ela disse que havia voltado recentemente da Argentina. Meu irmão, com olhar assustado, comentou depois da despedida "ela tava na Argentina" e aí pensei: "ainda bem que ela não tem nenhuma outra viagem programada, resfriada como eu estou, capaz de ter passado pra ela.

Resultado da conversa da mãe com a amiga: passeio na 25 de Março cancelado.

P.S: este post não pretende fazer pouco caso da gripe da vez.

1 comentários:

ERIK JONES disse...

Quando a paranóia se torna caricatural e cômica, seu melhor lugar é um filme de Woody Allen.

Se por acaso congela as ações, algo saiu errado e temos o exagero.

Pra ilustrar a comédia, comento uma mudança de hábitos recente (pura chacota divertida). Criei um sistema de entrada e saída de ônibus sem encontar e me apoiar nos malígnos suportes de ferro que todo mundo encosta e apoia. É divertido. E até agora só caí uma vez.

Cancelar passeios é bobeira, o exagero ! As cidades estão mais vazias, o ar livre é inofensivo! O vírus não voa, só pula.

(O lance é entrar em ônibus que nem doido, rsrsrs).