quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ex nihilo

 
Tenho livros que não leio, CDs que não ouço, cérebro que não uso, coração que não bate. Tudo é não, o sim me nega e me recusa. Como em um filme repetido, com final conhecido, seguem os dias no cárcere. Sou prisioneira imaginária da repetição dos dias que se foram, dos que nunca terminam e dos que insistem em não chegar.


Construí meu cárcere em um país distante, isolado pelo tempo, situado em mapa algum, onde as ruas divergem na direção, sem paralelo. Em busca do sentido das coisas, caminho pela cela, ampla como meu ego e tão pequena quanto permite a mediocridade. Não o encontro.

As músicas não me dão um sentido, os livros, já não os quero, embora os ame e neles, talvez um dia volte a me refugiar em busca de um sentido fugidio e faça deles não o cárcere, mas o retiro espiritual de minhas veleidades. Não vejo nada para além de minha prisão sem janelas e penso na inexistência de algo extra-muros. Não há transcendência.

Tenho sentido o esmaecer de meus sentidos, quando me deixarem por completo restarão os pesadelos que, assim como tudo, são a repetição de velhos medos e recalques, impossíveis a mim de explicar e quando estes também se forem, nada me restará além da estrada asfaltada e retilínea por onde tantos passam e que é fácil de seguir, ali encontrarei um sentido, haverá bem e mal e eu em relação a eles, jamais para além.

3 comentários:

Jamil P. disse...

Já leu Um Sopro de Vida, da Clarice?

Sem tempo para manter um blog disse...

Oi, Jamil!
Ainda não li, mas fiquei super curiosa e vou providenciar o quanto antes!!!!
Um beijo!

Jamil P. disse...

É o último livro dela, foi publicado somente após a sua morte. Um obra-prima. Se quiser, posso te emprestar o meu, só me avisar.
Beijos!