domingo, 17 de abril de 2011

Fragmentos

O raso e o profundo

Seguro a caneta como se calculasse a medida entre o abismo que em mim criei e a vontade que o separa do salto para dentro dele. Acostumei-me ao comodismo da atração que as coisas exercem sobre mim, flutuo constrangida por seu magnetismo. Vinda do alto falante uma voz diz ‘you know how I feel’ quando de fato, o fato é tudo o que se produz e sigo meu fado sem saber como me sinto sobre o que sinto. Atraio-me para dentro de mim, sem caminhar ou fazer esforço. Levito. O buraco negro me suga. Vivo dentro de mim e me basto, não quero cruzar meus muros, não quero o raso, não quero o profundo. Basta. Não quero, não querer basta, basta não querer. Basta de não querer.

Cosmétrica

Ando cismando com minhas mãos, quem as tem segurado também, cismo se com a falta de esmalte e excesso de cutícula que o tempo escasso ocasionou, ou se com o excesso de tempo que nelas repousou. Lembro-me de terem sido mais lisas e cândidas, hoje ouvem do lápis o quanto eram chatas naquela época e tão poucas histórias tinham a contar, mas nem um lápis sabe entender a angustia da mulher com o tempo, mesmo daquela que fez dele seu ofício e seu sustento.

Papel e caneta

Nossos poros se encontram na escrita e nos interstícios deles deixo anotadas minhas impressões.

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