- Procurava por mim?
- Sim... por muito tempo, por que só apareceu agora?
- Diga, o que quer de mim?
- Você sabe.
- Sei, mas você sabe?
- Podemos ser breves com isso?
- Eu tenho andado por aí, sempre conversando com gente como você, não me surpreenderia se mudasse de ideia.
- Você acha mesmo que me conhece, não é? Acha que me conhece por vagar por aí, comprando a miséria alheia, acha que já viu muitos como eu, mas o que você pensa que é? Te deixaram sozinho em seu momento crucial!
- Entendo você... sei que tem sido difícil... mas, diga, o que quer de mim, amigo?
- Amigo? Você é engraçado.
- Meu amigo.
- Me diga você, qual o preço?
- Sua contrição.
- Certo, eu sabia que deveria ter procurado seu irmão primeiro, ele pede muito menos e pode me oferecer muito mais, se pedisse mais um tempo ele alargaria o prazo para o pagamento do penhor.
- Talvez seu crédito seja bom com ele, mas me ofereço para pagar sua dívida, espero apenas seu reconhecimento em troca, nada mais, sem penhora. Além disso, o que meu irmão faria com a alma de um niilista, não vale muita coisa para ele.
- Já houve pureza e fé em mim.
- Compraria um carro batido só porque foi novo um dia?
- Não...
- Eu sim, vê a diferença?
- Certo... compra minha dívida, então? O que fará com ela?
- Venderei para o chefe do escritório, aliás, já a vendi há muito, muito tempo, não só a sua...
- E ele paga bem?
- Nunca me deixou na mão.
- Ok, assino onde?
- Não precisa assinar nada. Aperte minha mão e vá para casa. Agora temos um acordo, amigo.
- O homem sorriu, apertou a mão do comprador e pensou em ainda dizer algumas palavras, mas virou as costas e voltou para casa...
Texto inspirado na música The Man Who Sold The World, de David Bowie – que só descobri que era dele em circunstâncias muito especiais.
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