sábado, 17 de abril de 2010

Cara a cara com o homem que vendeu o mundo


- Procurava por mim?

- Sim... por muito tempo, por que só apareceu agora?

- Diga, o que quer de mim?

- Você sabe.

- Sei, mas você sabe?

- Podemos ser breves com isso?

- Eu tenho andado por aí, sempre conversando com gente como você, não me surpreenderia se mudasse de ideia.

- Você acha mesmo que me conhece, não é? Acha que me conhece por vagar por aí, comprando a miséria alheia, acha que já viu muitos como eu, mas o que você pensa que é? Te deixaram sozinho em seu momento crucial!

- Entendo você... sei que tem sido difícil... mas, diga, o que quer de mim, amigo?

- Amigo? Você é engraçado.

- Meu amigo.

- Me diga você, qual o preço?

- Sua contrição.

- Certo, eu sabia que deveria ter procurado seu irmão primeiro, ele pede muito menos e pode me oferecer muito mais, se pedisse mais um tempo ele alargaria o prazo para o pagamento do penhor.

- Talvez seu crédito seja bom com ele, mas me ofereço para pagar sua dívida, espero apenas seu reconhecimento em troca, nada mais, sem penhora. Além disso, o que meu irmão faria com a alma de um niilista, não vale muita coisa para ele.

- Já houve pureza e fé em mim.

- Compraria um carro batido só porque foi novo um dia?

- Não...

- Eu sim, vê a diferença?

- Certo... compra minha dívida, então? O que fará com ela?

- Venderei para o chefe do escritório, aliás, já a vendi há muito, muito tempo, não só a sua...

- E ele paga bem?

- Nunca me deixou na mão.

- Ok, assino onde?

- Não precisa assinar nada. Aperte minha mão e vá para casa. Agora temos um acordo, amigo.

- O homem sorriu, apertou a mão do comprador e pensou em ainda dizer algumas palavras, mas virou as costas e voltou para casa...

Texto inspirado na música The Man Who Sold The World, de David Bowie – que só descobri que era dele em circunstâncias muito especiais.

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