Você já se sentiu feliz simplesmente pelo fato de estar próximo de uma pessoa que irradiava felicidade? Já, né? Eu também, muitas vezes. A alegria brota espontânea diante de uma promoção no emprego, nota alta, satisfação de necessidades e desejos, mas desaparece diante do trânsito complicado, no metrô apertado, na falta de gentileza e dos nãos que se repetem em progressão geométrica, em suma, na maior parte do tempo, nos conservamos em um estágio de semi indiferença, que não é nem de alegria e nem de tristeza, cultivado durante um período prolongado se torna cinismo, raivinha, nojinho e nos transformamos em pessoas que reclamam e reclamam e reclamam, de tudo, da chuva, da falta de chuva, do calor, do frio, da forma como o sujeito do outro lado da rua se move. Como conservar a alegria com serenidade no atropelo cotidiano da rotina que irrita e da falta de rotina que nos deixa inseguros? Naqueles momentos em que você olha para os lados procurando pela câmera e torce para que seja uma pegadinha do Mallandro e não a verdade.
Felicidade faz tudo fluir melhor, quando estamos felizes o trabalho vai bem, os estudos melhoram em qualidade (até quantidade), relevamos mais coisas em nome da camaradagem e da manutenção do benéfico estado de espírito. O time do Santos, sensação do momento, muitas são as explicações para o sucesso que alcançaram, mas, além do talento dos moleques e de todos os outros detalhes técnicos e financeiros, cabe um adendo: eles jogam felizes, é nítido, como se tudo não passasse de uma brincadeira, e o futebol não é isso? Uma brincadeira que nos faz deixar de lado os problemas sérios?
Durante a semana encontrei uma mulher que me fez sentir uma criatura mesquinha, desprezível e me levou a ponderar sobre detalhes subjetivos que vinham passando despercebidos, tudo isso apenas demonstrando alegria, muita alegria, não aquela das pessoas efusivas e patéticas, mas a dos que realmente dão atenção ao que é importante e sabem que há jeito para quase tudo. Apenas alguns minutos conversando com a mulher incrivelmente cativante e quis saber o motivo de tanta alegria, comecei a especular sobre a vida dela, como desconfiei, pelo cabelo muito curto e ralo, ela se tratava de câncer e havia passado recentemente por uma cirurgia de reconstrução da mama. Ela se mostrava grata, não havia qualquer traço de amargura, apesar de tudo, confiava num futuro melhor e tinha fé, não era auto-engano, mas confiança e desejo de vida. Senti que no meu ombro esquerdo pousou um pequeno Karl Marx que dizia: e aí, vai ficar se lamentando dos seus draminhas pequeno-burgueses inventados no Romantismo? No outro ombro, Engels dizia: ele tem razão. Sim, tem e ela, principalmente. Passa a juventude, perde-se a vida e a rabugice aumenta, se todos temos problemas e não podemos fingir que não existem, tampouco fugir deles, se nem todas as batalhas serão vencidas, nem devem ser, que as prioridades sejam redefinidas e que somente o primordial tenha o direito de embotar o sorriso, vez ou outra, mas que a alegria e o riso prevaleçam. Aquela mulher não saberá que escrevi algo inspirado nela, nem nunca o lerá, mas a ela dedico este texto e meu sentimento de gratidão.
4 comentários:
ja falei que eu sou sua fan?!?!
seu blog deveria ser lido por td MUNDO!
saudade de vc.. infelizmente isso me da tristeza... mas feliz que mesmo a distancia ainda podemos nos comunicar!!
Beijos!
Elisa
Putz... eu sinto tanto, tanto, tanto a sua falta...
Se o blog for lido por você, já valeu demais da conta!
Beijo enorme!!!!!!!!
Camilete,
Me rendo ao seu dom de escrever!!!Amei esse texto.Mito bonito e profundo, nos faz repensar muitas situações cotidianas, tão pequenas, que nos empedem de viver.
parabéns!!
Paulete! que honra!
Fico alegre que tenha gostado do texto, brigadão pelo elogio, brigada mesmo.
Vê se aparece por aqui e fica mais tempo da próxima vez.
beijos!
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