quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A crença


O ano, 1988, dia 17 de Novembro. O homem, Luís Carlos Tóffoli, o Gaúcho.
Era mais um jogo do Campeonato Brasileiro, porém, esse entraria para a história do clube Alviverde Imponente. No prélio, Flamengo, o mandante e Palmeiras. Não foi dia de Maracanã lotado, o público modesto, apenas 14.638 pagantes e alguns pouquíssimos palmeirenses que se aventuraram numa comitiva rumo ao Rio, chegaram ao Estádio com 20 e poucos minutos de partida em andamento, sendo recebidos com hostilidade pela torcida adversária e quase massacrados, não fosse intervenção policial.
O jogo seguia tenso, a dupla Zico – Bebeto atacava, mas sem objetividade. O segundo tempo viria para acentuar o drama da partida. Após entrada violenta no jogador flamenguista, Denys recebe cartão vermelho, o Palmeiras tem dez jogadores. Após a expulsão, o Alviverde abre o placar, Mauro marca para os visitantes, mas eis que os deuses do futebol resolvem aumentar o teor emotivo da partida e em uma entrada criminosa, Bebeto quebra a perna de Zetti, guardião do gol palmeirense. Ênio Andrade já havia realizado as substituições permitidas, então surge o homem, Gaúcho, centro avante, é o escolhido para substituir Zetti.
Com a substituição no gol, acontece o previsível, chuveirinho carioca na área, Zico tabela, Bebeto empata a partida no final do jogo. Pelas regras vigentes naquele ano, jogos terminados em empate deveriam ser disputados nos pênaltis. A torcida rubro negra exulta nas arquibancadas, os pouco palmeirenses ficam apreensivos e têm início as cobranças.
Gaúcho, todos os holofotes e câmeras nele. O torcedor fecha os olhos. Gaúcho defende e defende ainda outra vez, além de converter, também, sua cobrança. Maracanã em silêncio, público incrédulo. Vitória Palestrina.
É preciso crer, como aqueles poucos palmeirenses que viajaram mais de 400 km para apoiar seu desacreditado time. Crer, como Gaúcho, que ao final do tempo regulamentar declarou "eu vou pegar, nós vamos ganhar". Precisamos crer que amanhã será um dia melhor, se não for, depois de amanhã será. Precisamos crer que para a vida não há diagnóstico, tampouco receita, ela está aberta a todas as possibilidades, a do chute violento que te tira do curso e vira o jogo e a do centro avante que defende o gol e, mais uma vez, o destino é mudado. A dureza do prélio não tarda, como canta a magnífica canção, mas precisamos entrar nele acreditando que ganharemos, ainda que com um a menos, com perspectivas desfavoráveis. O jogo pode ser mudado, sempre. Concordo com Rodrigo Amarante, a chave é não se preocupar, ter fé e ver coragem naquilo que está para além de nossa estreita compreensão.
Salve Gaúcho, salvem todos aqueles que em um dia que tinha tudo para dar errado acreditaram e voltaram vitoriosos para casa.

1 comentários:

ERIK JONES disse...

Eu me lembro desse jogo ... e desse feito sensacional! E me lembro desse regulamento que só durou um ano. Era divertido.

Foi de fato criminosa a entrada do Bebetinho no Zetti ? Ou é licença poética?