quinta-feira, 26 de novembro de 2009

LDUBOL

Por Erik Jones

Eu me sinto lesado. Não é discurso derrotista ou muito menos chororô.

É fato : um jogo disputado em Quito constitui atentado violento à isonomia do jogo.

O time da casa desnorteia o visitante e golpeia sistematicamente à base de chuveirinhos. O raciocínio deles : Se os visitantes tiveram tempo de se adaptar à velocidade da bola e conseguirem cortar os cruzamentos, não terão forças para brigar pelo rebote ... e aí a gente massacra, chutando de longe.

É insano e constrangedor. Torcemos para o tiro de meta. Enquanto um time corre sem parar e parece ter 15 em campo, o outro se livra da bola como pode ... e nem dá pra respirar meio segundo, já que o gandula, treinado à base de pinball, está lá para fazer voltar o pesadelo.

Claro que a exaustão de uma louvável maratona torna mais drástico o disparate ... enquanto jogamos 10 vezes em 30 dias, os caras se pouparam no campeonato equatoriano ! Ou seja, como diria Titãs, "não é que eu vou fazer igual, eu vou fazer pior".

Eu nem consegui vibrar direito com o gol aos 25 segundos ... aliás, nem vejo como tal. Na altitude, gol não é gol, é crédito.

Lá pelo terceiro gol, feito no cúmulo da cabeçada, comecei a pensar na Geise da UNIBAN... jogar na altitude é tão bizarro quanto chamar a polícia quando uma menina bonita usa um vestido curto ...

(Conforme expus, o CINCO contra UM não teve nada a ver com isso).

De repente, a conduta antiGeise se justificaria na COXOPÓMIRIM de 1938, com a iniciativa de velhinhas da UDN, diante de uma forasteira desinibida que ousasse usar uma roupa "inapropriada" para acompanhar a missa na igrejinha da cidade.

Jogo na altitude me remete a essa cidade fictícia, nessa época e com esse contexto. Daqui a sei lá quantos anos, tenho certeza de que a humanidade olhará pra trás e se espantará com os confrontos de 180 minutos disputados em total desigualdade ...

O que fazer com os caras no jogo de volta quando eles, com mais hemácias, estarão no temível nível do mar? Um city tour pelo Complexo da Maré com bônus de Cidade de Deus (com direito a Zé Pequeno) + envenenamento de empadinha + overdose de caipirinha + roda de samba com funk carioca e axé baiano ?

Não me parece possível, não me parece viável (embora altamente temível).

E agora, José? A solução é tirar da disputa os times que se situam nas cidades das alturas ?

Não, seria esdrúxulo e talibã. A solução é adaptar, como assegura a Constituição "tratando desigualmente situações que são desiguais" ... a isonomia só se torna plena dessa forma !

Em confrontos de mata-mata, o saldo de gols não vale ... em caso de vitória, na altitude, da LDU ou coisa do gênero e derrota da LDU ou afim, no nível do mar (geralmente e "inexplicavelmente" é o que acontece), realiza-se um terceiro jogo, em país neutro e logicamente, no nível do mar.

O Flamengo já foi campeão de uma libertadores assim ... perdeu na altitude chilena, e ganhou no Rio. E no terceiro jogo, ganhou no Uruguai.

"Hoje em dia não é viável" diria um velhinho boliviano da Sul Americana, tomando o chá de coca nosso de cada dia. E complementaria : "a competição tem 40 times e vai ferrar o calendário" Não ferra não, velhinho ... há muitas quartas ou quintas livres para o jogo extra ... apenas ajustaria um absurdo.

Há quem passe uma vida defendendo a vida das baleias, das árvores da Amazônia.

Como se percebe com esse desabafo, há outras causas. Algo precisa ser feito.

Cansei de ser bode expiatório ...

PS1 : Não vejo mais jogos assim. Além de pensar na Geise, tive a nítida sensação do confronto simbolizar um lutador de luta livre com serra elétrica contra uma criancinha de ponta à cabeça e que, lamentavelmente, perdeu o estilingue.

PS2: Em tempo: Não joguei a toalha. Esse clube tem a vocação da superação, tem a sina de cortejar o impossível.

Para a volta, são apenas 2 gols em cada tempo e mais um na prorrogação.

Havendo a virada ou não, é o caso de todos os clubes brasileiros, argentinos, paraguaios, uruguaios ... o sadismo dos Deuses do Futebol parece não ter limites ... mas um dia poderá ser você o otário da vez ...

É chegada a hora de todos os prejudicados com essa bizarrice se unirem em prol de uma mudança na regra.

Um terceiro jogo e o fim do saldo de gols parece uma solução plausível e razoável. Há até um precedente nesse sentido (que acertou em cheio por linhas tortas já que o terceiro jogo nada tinha a ver com a altitude).

Mas um saco de areia com 5kg nas costas de cada equatoriano ou afim (incluindo o gandula), não é algo a se desprezar ...

2 comentários:

Sem tempo para manter um blog disse...

Que os poderes do bom senso sejam tão maiores quanto os do Fluminense.
Isonomia já!

ERIK JONES disse...

Oi Cami !

Gracias pelo espaço ... escrevi alucinadamente, sem filtros ou revisão ...

Um dia certamente esses jogos disputados na altitude serão revistos ...

Certamente será percebido que é um retrocesso injustificável ... uma afronta ao jogo justo ... aliás, uma afronta ao jogo, que realmente fica diferente.

Dizem que há comprometimento de 20% da capacidade física/respiratória. É praticamente um doping consentido ! E o doping é tão bizarro que nem a bola escapa ! Como corre a diaba da bola ...

"Vc leu antes aqui" ... rsrsrs