sexta-feira, 12 de junho de 2009

Fala aê, Zaratustra

O que passava pela cabeça de um homem do século XVI ao contemplar o céu e as estrelas? A cosmologia Quinhentista era, deveras, interessante e bela, o modo de estar no mundo era uma criação poética baseada naquilo que se tinha em mãos, a saber: textos dos padres da Igreja, as Sagradas Escrituras e textos antigos da tradição greco-latina.

Onze céus, ou esferas, de cristal, formadas pela substância mais pura existente, o éter, ou quintessência. A mecânica celeste era complexa, a mais importante das esferas jazia fixa, ela envolvia todas as restantes, ali habitavam os seres divinos. As outras dez esferas se moviam de forma independente uma das outras e, assim, era explicado o movimento das estrelas e planetas e o variado posicionamento do Sol em cada época do ano. Em noites estreladas, calmas, no mais profundo silêncio era possível ouvir o som produzido pelo movimento das esferas, a música celeste.

Se existiam vários céus, cada um envolvido por uma esfera de cristal, como elas não se romperiam com a queda na Terra de algo vindo de outra esfera? A observação de um cometa foi o suficiente para abalar séculos de tradição.

O tempo passou, cientistas brilhantes nasceram, criaram, morreram e centenas de anos depois de Aristóteles e Ptolomeu, estamos aqui, com nosso céu coalhado por satélites artificiais, visitas ao espaço e a invenção de outras tradições.

O céu não perdeu a beleza, as mesmas estrelas observadas pelos homens do século XVI podem ser contempladas por nós, com o prejuízo da poluição ou excesso de iluminação, dependendo de onde se vive.

No ano 2009 a Terra gira em torno do Sol, não é o centro do universo, mas continua habitada pelas certezas. Criadas ou imanentes? O mundo, dentro da minha esfera, é o que eu observo com o auxílio de meus sentidos ou o que eu crio com minhas expectativas e medos? Os dois? Passo a bola para Schopenhauer e me esquivo de arriscar uma resposta, ou mesmo parafraseá-lo, mas contribuo com mais perguntas. Se a beleza da vida está na criação da realidade e não no fato dado, tenho motivos para crer que o que é realmente importante está fora de foco e que, na verdade, os esquizofrênicos são as únicas pessoas lúcidas e focadas. A afirmativa também supõe que não criar uma realidade é estar condenado às agruras e que, portanto, a vida é mesmo cruel.

Se a forma como encaramos a vida é, em grande medida, influenciada pela nossa visão de mundo, por que escolhemos o caminho do otimismo, do pessimismo, niilismo, hedonismo, polianismo e tantos outros ismos e, simplesmente, não adotamos uma ótica objetiva das coisas? A explicação mais simples seria: somos humanos e sujeitos a panes nos neurotransmissores. Nem sempre a explicação mais simples é a pior.

A questão se coloca: romper com tradições e paradigmas me fará olhar para o céu de maneira diferente, ou necessito destas tradições, inventadas ou imanentes, para suportar a vida no mundo sublunar pós-tudo?

Exageros, típicos da autora, à parte, são estes os questionamentos que nos diferenciam dos tubérculos e de pessoas como Alckmin e Chalita, a não certeza dos caminhos torna a vida instigante, é como a porta dos desesperados, atrás dela pode estar alguém fantasiado de gorila, ou a bicicleta dos sonhos. O gorila nunca matou ninguém e não ganhar o prêmio, idem (reflito... mas, a mão invisível da produção do programa estabeleceu qual seria a porta certa, digo certa porque ninguém nunca manifestou a clara intenção de topar com o primata, logo... existiria a porta certa?)

No final do caminho, certo ou não, após romper ou continuar segura pelas e com as tradições (com-tradições?) eu não gostaria de ser surpreendida na porta, por um sujeito de boné pro lado me dizendo: "Ráaaaaaaa, pegadinha do malaaandro".

Nas palavras de um célebre amigo que não conheci: "Os deuses vendem quando dão... a vida é breve, a alma é vasta: ter é tardar." Ou seja, tá na chuva, se molhe; tá vivo, viva; mas lembre-se: o dado é penhora. Ouvir a sinfonia tem um preço.

4 comentários:

Unknown disse...

sim.. eu li o post td... mas confesso q qdo olho pra foto desse post.. soh consigo lembrar da MINHA vida! hauhauhauhaua
bjaoooo!

Sem tempo para manter um blog disse...

Cacildis, Lisa!!!
Que honra sua visita por aqui!! e ainda por cima, lendo o post mais longo da história do blog!
Sim, é pegadinha, mas a gente se diverte, né não?
Bjs, querida!

Unknown disse...

O homem do século XVI, portador de "novidadefobia" crônica, sofreria um ataque epilético fatal diante do Gorila do Malandro.

Felizmente, o costume de se queimar na fogueira quem pensasse diferente foi sumindo, a influência política da Igreja diminuindo e assim, chegamos, onde chegamos.

A vida pode ser bela ou cruel, às vezes tudo junto e muitas vezes há o meio termo.

Pós tudo ou pré nada rendem papos dos mais eloquentes numa mesa de bar, seja com o tempero eloquente de um chopp, seja com a sabedoria cristalina de um suco de laranja.

(Não que não exista sabedoria no chopp).

Sim, fiquemos com a brilhante conclusão : tá vivo, viva, tá na chuva se molhe ... e se aparentemente, tudo se parecer um hospício, cortejemos à insanidade e abracemos o maluco (com moderações, já que a sinfonia tem um preço).

CARPE DIEM e como diria um amigo, CARPE NIGHTEM !!!

Texto brilhante, ótimas reflexões e comparações em meio a muito conteúdo original.

Bjs.

Unknown disse...

Yaki deriva de Yaki Soba, uma variante insólita do irônico anônimo Erik Jones.