segunda-feira, 4 de maio de 2009

Da fragilidade

Um belo dia para caçar saci. Creio que as manchetes do jornal de amanhã serão: Tempestade de areia no Interior Paulista. Não é exagero, o vento se apresentou imponente, as crianças foram chamadas para dentro das casas, os cachorros recolhidos e o pessoal da manutenção guardou as ferramentas e sumiu. Cena bonita. Vento muito forte e gelado, pedaços de árvores se desprendiam e rodopiavam, vizinhos cautos fecharam as janelas e eu observando tudo através da minha pensava "o que estará acontecendo por aí?". O vento pintava o céu com poeira, me assustei um pouco, a paisagem era inédita, o silêncio assustador e a beleza do momento inenarrável. A ventania aumentava com o transcorrer dos minutos, coisas voavam; nenhuma vaca ou trator, ainda assim, o rebuliço climático caipira era respeitável. Segundo ato: A chuva. Entrou tímida no palco, mas se desinibiu até virar granizo e chuva novamente, mas agora tão fraquinha que o vento a tornava semelhante aos cristais. Celular em roaming, a seguir, totalmente sem sinal. Luz elétrica trêmula.
A ocasião fez refletir sobre a fragilidade das coisas. Tudo se tornou relativo e instável devido às circunstâncias, vizinhos que se preparavam para sair mudaram de ideia, uma imensidão de janelas abertas pelo calor foram fechadas, o silêncio estranho das crianças e a não razão de ser do parquinho, vira latas vagabundos sem função social e as velhinhas correndo para os apartamentos. O clima é instável, a vontade esmorece diante das possibilidades, a vida é volátil. Estamos sujeitos aos irônicos mecanismos que teimam em não querer deixar as coisas como estão. Então que seja. Como diriam os barbudos: eu gosto é do estrago e ainda o outro barbudo: tudo o que é sólido desmancha no ar.

Permanências e rupturas, o ganha pão do historiador. A ventania passou, a nuvem de poeira foi lavada pela chuva e o sol, que não havia dado as caras o dia todo, resolveu aparecer. Lá fora o ar já não é o mesmo, congela as narinas e arrepia a pele.

Acho que sempre tive uma queda pelas rupturas.

Imagem: http://paralokos.zip.net/

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