A poesia prevalece

Certo dia um aluno me disse quando perguntado sobre como ia a vida: "tô muito ocupado, mas eu sei que depois piora" infelizmente sou levada a concordar, a adultescência é mais complicada do que eu imaginava, talvez a carga de ocupação não seja tão diferente da de alguns adolescentes, a diferença é que as obrigações e responsabilidades aumentam, mais pessoas esperam e, em algum sentido, dependem de nós nesta etapa. O peso das cobranças, a preocupação e a rotina cruel nos impõem o uso de máscaras, vestimos nossas fantasias e representamos os papéis adequados para cada situação, a do trabalho, da faculdade e assim por diante. Não ontem. A noite não prometia, mas se cumpriu. Dois dias antes do show bateu aquela vontade de comprar as entradas, pensei "por que não? Já fui tão mais longe pra ver os caras, agora que eles estão aqui, o que custa? Não gostei tanto desse último trabalho, mas ainda assim... por que não?" comprei. Valeu.

As máscaras foram deixadas em casa e trocadas pelo nariz de palhaço, troquei um papel por outro, mas, de qualquer forma, foi o mais próximo que consegui chegar de mim. Gostei. Talvez eu tenha alma de boneca, bem, bem lá no fundo, se vocês procurarem talvez encontrarão em mim o mesmo que vi ontem.

Pessoas queridas estavam lá, gente minha cujo coração eu conheço, quando os vejo o olhar ultrapassa os personagens que criam. Aconteceram encontros inesperados com pessoas que admiro, torço, são presentes no pensamento, mas já não via desde a infância. Houve também encontro com gente que esperava encontrar, mas não estava... de repente, apareceu e o barulho e frases sem sentido tomaram conta. O não encontro também existiu, a saudade ecoou e foi compartilhada, lembranças desenterradas de camadas ainda superficiais da lembrança. Entre tantos encontros memoráveis e dignos de serem sempre lembrados, creio que o mais importante tenha sido aquele que realizei comigo mesma. Fazia dias que já não mais me encontrava, fui trazida novamente ao caminho pela catarse e me reconheço outra vez. A máscara continua, mas agora me lembro que ela não sou eu.